Árbitra de Jaraguá do Sul dribla as dificuldades e busca crescimento no quadro da CBF. Ela comandou a vitória de virada da Chape por 2 a 1 contra o Metrô no ultimo sábado na Arena Condá
Charly Wendy Deretti (Arquivo pessoal)
Aos 31 anos, Charly Wendy Deretti tem se tornado um nome conhecido na arbitragem profissional de Santa Catarina. Com estilo focado na parte disciplinar, Wendy driblou as dificuldades financeiras, investiu na carreira profissional e já é vista como referência feminina da profissão no Estado. No ultimo sábado (2) ela comandou Chapecoense 2×1 Metropolitano, pela 2ª rodada do returno do Catarinense. Foi o segundo jogo do Verdão comandado por Charly em 2019.
A árbitra, natural de Joinville, adotou Jaraguá do Sul como sua “cidade natal”. Por lá, trabalha atualmente como orientadora de atividades do Sesi. Os primeiros passos no apito foram dados em 2011, na cidade de Osasco, região Metropolitana de São Paulo: apitando peladas de amigos, chamou a atenção da Liga de Árbitros de Osasco, onde iniciou a carreira no futebol amador.
Com diversas dificuldades, entre elas financeira, Charly voltou a SC em 2012. Três anos depois, se filiou a Liga de Joinville. Nesta mesmo temporada, estreou em competições profissionais, em um jogo da Série B do Catarinense, já no futebol masculino. Em 2018, veio a coroação: após muita luta, fez o seu primeiro jogo na elite do futebol catarinense, justamente no clássico entre Avaí x Chapecoense, na Ressacada.
“Foi um jogo emocionante. Foi um dos momentos que olho para trás e vejo os anos que trabalhei. Muito tempo estudando, batalhando, para estar nesse local ali, que era um sonho. Tudo mudou a partir desse jogo de Série A” – disse Charly, em entrevista exclusiva ao Clic RDC.
Ligação com o futebol
O futebol corre nas veias de Charly desde criança. Ela começou a jogar aos 11 anos. Driblando o preconceito e a dificuldade de encontrar um time feminino para treinar, seguiu a carreira até 2013. A volante pendurou as chuteiras quando atuava pelo Osasco-SP, no futebol de campo e também no futsal.
Confira abaixo a entrevista do Portal Clic RDC com Charly Wendy Deretti.
Clic RDC: Como você analisa o teu trabalho como árbitra, em especial nesses últimos dois anos, 2018/2019?
Charly: Minha carreira alavancou, mas não foi “do nada”. Venho trabalhando a anos, estudando, treinando, me dedicando. Estou começando a colher os frutos e ao mesmo tempo continuo plantando para colher ainda mais.
Clic RDC: Qual característica te marca como árbitra?
Charly: Minha característica desde o início é a parte disciplinar. Carrego essa imagem de “durona”, mas não é isso. O que quero lá dentro é disciplina e respeito de ambas as partes. Acredito que, quando se tem respeito entre os atletas, comissão e arbitragem, o jogo flui com maior êxito. É preciso ter autoridade sem ser autoritária.
Clic RDC: Por ser mulher, o desafio de comandar uma partida masculina é maior se comparado aos homens? E como você enxerga a evolução nos últimos anos nesse sentido, em especial comparando quando você iniciou sua carreira?
Charly: O único desafio a mais entre um jogo feminino e masculino é a parte física. O restante é tudo igual: as regras, o número de jogadores, a responsabilidade, tudo igual. Porém, a parte física é o grande divisor de águas. Se você não estiver bem fisicamente para uma partida masculina, pode acabar se equivocando em alguma decisão por estar mal posicionada ou faltando oxigenação. Antes o futebol era mais lento, menos dinâmico. Hoje não. O futebol moderno é rápido, ágil e de muita força e contato físico. A arbitragem teve que acompanhar essa evolução, prova disto é os novos testes exigidos pela CBF e FCF. Se não estiver bem preparado, não terá aprovação.
Clic RDC: Além de árbitra, você possui outra profissão?
Charly: Sou profissional de Educação Física e atuo como orientadora de atividades físicas no SESI Jaraguá do Sul, onde tento conciliar a carreira com as escalas.
Charly carrega o escudo da CBF desde 2018 (Arquivo pessoal)
Clic RDC: Qual é o processo de preparação que você faz antes dos jogos?
Charly: Não existe nenhuma preparação especial ou diferente dos demais jogos. Cuidado com o sono e alimentação são diários. Trato todo jogo como o mais importante, pois é ele quem me habilitará para o seguinte. Independente se for sub-15, sub-20 ou Série A de Catarinense, é o meu nome que estará lá, então o meu melhor será entregue. Claro que uma Série A com equipes como as do jogo de hoje trazem um glamour a mais, mas isso não muda a concentração ou a preparação. Muda apenas a motivação pois estar ali, uma mulher apitando um jogo de tamanha responsabilidade é gratificante, desafiador e isso faz a motivação aumentar ainda mais.
Clic RDC: Quais são suas pretensões ao longo da carreira?
Charly: Já sou do quadro CBF, fiz os testes ano passado e tive aprovação. Hoje meu próximo degrau (penso de um em um para chegar ao sonho) é ter os 5 jogos da principal divisão do Estado, no caso Catarinense Série A. Com isso estou dando um passo a mais para crescer dentro da CBF, estando habilitada, além de todos os demais testes exigidos para trabalhar em níveis maior do Campeonato Brasileiro masculino, que é meu objetivo. Já atuei no Brasileirão feminino ano passado como árbitra principal e em algumas competições de base masculina fui árbitra reserva. O próximo passo é apitar essas divisões masculinas.
*Reportagem especial de Mateus Montemezzo.
**atualizado por Sinafesc
Fonte: ClicRDC